domingo, 12 de agosto de 2007

Centenário do nascimento de Miguel Torga: Homem Escritor e Poeta

O menino que nasceu faz hoje cem anos numa modesta casa na freguesia de S. Martinho de Anta não se chamava ainda Miguel Torga. Nasceu como Adolfo Correia da Rocha e conheceu desde muito cedo a vida de trabalho , aos seis anos foi mandado para o Porto como criado de servir de uma família burguesa, não gostou da servidão o menino que estava habituado à liberdade, imensidão e paz da sua terra transmontana. Aos13 anos foi enviado para o Brasil para trabalhar na fazenda de um tio. Também não gostou muito desta esperiência de trabalhar para um familiar em troca do pagamento dos seus estudos. Embora lhe ficasse grato porque era enorme a sua sede de aprender!

Regressado a Portugal o tio continuou a pagar-lhe os estudos e mais tarde em Coimbra cursou medicina e formou-se. Foi na baixa da cidade de Coimbra, onde viveu a maior parte da sua vida que abriu um consultório como médico especialista de ouvidos, nariz e garganta. Nesse consultório no intervalo das consultas ia escrevendo a sua obra. E que obra!

O Dr. Rocha só em 1934 começou a ser conhecido como Miguel Torga. Preferiu sempre editar pessoalmente as suas obras, custeando-as do seu bolso. Daí talvez a ideia de alguns o acharem solitário e sovina mas os amigos dizem que era um homem generoso, íntegro e solidário como poucos. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre Miguel Torga pode começar por ler a sua obra de cariz autobiográfico "A Criação do Mundo". Eu conheço à muitos anos algumas obras deste transmontano rijo e amigo do mundo rural que tão bem retrata nos seus livros. O primeiro contacto foi nos bancos da escola onde hoje, infelizmente não consta dos programas escolares. Ai a Educação e a Cultura deste país!

Por hoje fico por aqui, neste pequeno texto introdutório, volto amanhã ou nos próximos dias com o mesmo tema porque a melhor homenagem que se pode fazer a Miguel Torga é ler os seus livros. É isso que agora vou fazer mas antes deixo-vos uma prenda... e um desafio. Alguém sabe em que obra se encontra este poema?Se não souberem não faz mal, da próxima vez que aqui falar de Torga eu digo. Prometo!


CONDIÇÃO


É de pedra esta triste melodia

Onde rasgo o volume do meu canto;

É dum granito negro que vigia

A pureza,maciça do meu pranto.


Dura

Solitária e cerrada,

Tem beleza e ternura,

Mas é fraga pisada ...


Fraga velha e batida

Pela dor dos almocreves e carreiros,

Só nela eu posso eternizar a vida,

Minha e dos companheiros...

Coimbra, 20 de Março de 1943
Miguel Torga



Boas leituras e...
Um abraço fraterno e solidário







4 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Homenagem merecida a Torga, um dos maiores escritores portugueses de sempre, em minha opinião, claro!

Cumprimentos.

Archeogamer disse...

Cara amiga paginadora, só para avisar que voltei ao activo, respondendo a tua pergunta de ausência.
Cumprimentos

sonhadora disse...

Linda homenagem ao poeta que melhor cantou a terra que dá o pão.
"A paixão é meu destino
meu final
e meu começo"

Maria Teresa Horta

Beijinhos embrulhados em abraços

Meg disse...

É realmente a unanimidade à volta de um dos maiores vultos das letras.
Todas as homenagens são poucas para recordarem o Homem, o escritos, o poeta...
Torga para sempre.
Um abraço