domingo, 26 de agosto de 2007

REZA

por esta gente que sua que corre atravessa a rua e não sabe que ela é sua por esta gente que lê a morte que passa ao norte e não sonha que é suporte da vida para essa morte por esta gente que ri em morangos de alegria e nem sabe que harmonia é outro fruto outro dia outro sangue outra sangria por esta gente gravata que não desata nem ata ouve discursos de lata e os toma por boa prata por este escravo rebanho que teme em baba e em ranho deixa o redil sem amanho e longe vai ser estranho vendendo o nome e o tamanho por este povo que cai sem um ui ou sem um ai sem um ó ou dó de si e corre de festa em festa a fazer hara-kiri por esta gente que eu sou nunca mais ave no voo nunca mais graal que sonhou por esta gente sem suco sacada de saco roto partilha parto e aborto vinha de vinho sem mosto.
- venha a morte verdadeira gelar-nos rezas no rosto.

Eduardo Olímpio in Às Cavalitas do Tempo
Mini-Crónicas Maio de 1974

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