segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O Carteiro


Lá vem o carteiro com seu ar prazenteiro, distribuir o correio. De mala ao ombro, mil segredos ela esconde. Na mão transporta cartas de amor, de penhor, de desamor, de alegria, de tristeza, igualmente a boa nova de um nascimento, ou de uma triste notícia.
A paixão de um grande amor ou a decadência de uma relação, já sem solução. Também se juntam na mesma mala os amigos e os inimigos. Ai se a mala falasse! De certo contaria, talvez fizesse do carteiro o seu confidente. E daí para a frente se estabelecesse um diálogo entre o carteiro e a sua mala:
- Como estava hoje a D. Maria, a moradora do nº 8, da rua da Alegria? Bem disposta? Ela sorriu para o envelope? de certo agradou-lhe o remetente! Boas novas, boas novas. Estou mais aliviada. Ufa ainda tenho o espaço muito preenchido, preciso que entregues mais umas cartas. E se fores já entregar àquele senhor velhote, que vive sózinho, para ele ficar mais animado? E não te esqueças de perguntar pela saúde dele, como vês somos nós os dois os únicos que o visitamos e as horas custam muito a passar para quem não tem ninguém, e aquela jovem que está sempre à janela esperando por nós, se calhar espera por notícias de amor.
- Mala amiga e minha única companhia, não achas que estás a ser um pouco indiscreta? A nossa missão é apenas a de entregar as cartas na morada certa.

- Pois, pois dizes bem na morada certa, agora não te distraias, ainda trocas a correspondência e depois é que são elas.

- Descansa que eu estou atento, além disso eu conheço já os moradores da zona. Estou a ficar um pouco cansado, já andei tanto...

- Queres um conselho? vai levar já o correio à tasquinha da esquina, sempre podes fazer uma pausa e beber um refresco para ficares com mais energia.

- Boa ideia, boa ideia. Quando queres és minha amiga. Claro que eu também o sou, não te sentes mais livre?

- Claro que respiro melhor. Dá para perceber que vais perto de um jardim. Cheira tão bem a flores e até se ouvem os passarinhos... como é bela a vida ao ar livre não achas?

-Tu dizes isso porque não te lembras de quando está a chover, ou a fazer um grande frio, com muito vento e que te custo a carregar, fico sempre com medo de te deixar cair.

- Obrigada pelo teu cuidado, não tinha pensado nisso. Estava convencida que o teu maior problema era na época do verão e que seria o calor a dificultar-te a vida.

- Boa amiga, estamos a chegar ao fim da entrega e esta última parece que é para uma grande festa.

- Não me digas que é um convite para um casamento?

- sabes amiga eu gosto muito de festas.

- Não me digas que queres casar comigo?

- Não é preciso! nós já somos inseparáveis. Não podemos viver, um sem o outro e somos muito felizes.







Évora, 6 de Março de 2007



Rosa Casquinha






1 comentário:

Mentiroso disse...

É sempre interessante ler-te. Histórias engraçadas contadas dum modo agradável e simpático. Mesmo sem comentar. Francamente, é irritante ter que entrar as letras de verificação contra um spam inexistente nos blogs portugueses; por enquanto.