sábado, 23 de fevereiro de 2008

José Afonso

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Os vampiros

No céu cinzento

Sob o astro mudo

Batendo as asas

Pela noite calada

Vem em bandos

Com pés veludo

Chupar o sangue

Fresco da manada

Se alguém se engana

Com seu ar sisudo

E lhes franqueia

As portas à chegada

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Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada

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A toda a parte

Chegam os vampiros

Poisam nos prédios

Poisam nas calçadas

Trazem no ventre

Despojos antigos

Mas nada os prende

Às vidas acabadas

São os mordomos

Do universo todo

Senhores à força

Mandadores sem lei

Enchem as tulhas

Bebem vinho novo

Dançam a ronda

No pinhal do rei

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Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada

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No chão do medo

Tombam os vencidos

Ouvem-se os gritos

Na noite abafada

Jazem nos fossos

Vítimas dum credo

E não se esgota

O sangue da manada

Se alguém se engana

Com seu ar sisudo

E lhes franqueia

As portas à chegada

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Eles comem tudo

Eles comem tudo

Eles comem tudo

E não deixam nada

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Para o José Afonso

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o canto que se erguia

na tua voz de vento

era de sangue e oiro

e um astro insubmisso

que era menino e homem

fulgurava nas águas

entre fogos silvestres.

Cantavas para todos

os acordes da terra,

os obscuros gritos

e os delírios e as fúrias

de uma revolta justa

contra eternos vampiros.

Que imensa a aventura

da luz por entre as sombras!

A vida convertia-se

num rio incandescente

e num prodígio branco

o canto sobre os barcos!

E o desejo tão fundo

centrava-se num ponto

em que atingia o uno

e a claridade intacta.

O canto era carícia

para uma ferida extrema

que era de todos nós

na angústia insustentável.

Mas ressurgia dela

a mais fina energia

ressuscitando o ser

em plenitude de água

e de um fogo amoroso.

É já manhã cantor

e o teu canto não cessa

onde não há a morte

e o coração começa.

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António Ramos Rosa
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Agradeço-te Zeca a tua voz ímpar, erguida em defesa de um sonho que eu também acalento de viver num país mais livre e mais igual, onde a justiça ainda possa morar .
Cantaste o povo, a terra e a liberdade, levantaste a voz contra a opressão. A canção foi a arma por ti utilizada para cantares Abril e a nova esperança num país maior e sem mordaças. Agradeço-te amigo as tuas trovas, a força e a coragem sempre presentes.
Os vampiros tentam andar por cá de novo mas não deixaremos que eles pousem. Entoaremos alto as tuas canções e elas nos darão alento para lutar por aquilo em que acreditamos e assim tu continuarás connosco. SEMPRE!
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3 comentários:

José Lopes disse...

Uma homenagem a quem a merece inteiramente. Eu vou-me lembrando cada vez mais vezes dos Vampiros, e não é de certeza porque os tempos estejam melhores.
Bom domingo
Cumps

Meg disse...

Minha Paginadora,

Com alegria te "revejo". Volto logo à noite... agora foi só uma visita de "reconhecimento"...

Um abraço e até logo

Meg disse...

Amiga Paginadora

Espero que esteja tudo "nos conformes".

Um abraço