sábado, 21 de março de 2009

Porquê António?

Sento-me no banco alto e peço uma bebida.
Mais uma, a última da noite.
Dessa ou de todas
as que poderão vir a existir.
Bebo lentamente, escorre-me pela garganta o sabor
amargo do líquido gelado.
Estou só, como sempre estive, embora
acompanhado, estou só.
A vida foge-me pelos dedos mas já não importa...
Que se lixe! Peço outra bebida e mais outra ainda,
peço todas e bebo devagar, abandonado
ao pensamento que me consome, que me devora.
Sinto calor, abro a camisa, levanto-me para sair.
Olho à volta mas só distingo névoa, fumo, vapor
de alcool. Bebido em solidão embora junto a outros
companheiros de infortúnio. Saio porta fora
para a noite escura, as pernas levam-me para longe dali,
para fora de mim.
Vou embora devagarinho, nem me despeço.
Apenas vou.
Ou me deixo ir...

4 comentários:

Meg disse...

Minha Amiga,

Este é um texto muito triste e que me deixou a pensar...
"Álcool, desespero, solidão"... são tuas as palavras.


Um abraço

Zé Povinho disse...

Não será solução, tenho a certeza. Os dias sucedem-se e há muito mais para ver e para pensar, basta dar tempo e confiar um pouco mais em nós próprios.
Força!
Abraço do Zé

Anónimo disse...

Querida MEG

São palavras muito tristes efectivamente mas que expressam bem a realidade. Esta que descrevo no meu texto e tantas outras que conhecemos por aí...
Esta realidade, bem como o protagonista dela tocaram-me profundamente porque conheci a ambos muito bem.O António partiu ainda nem há um mês.Foi-se embora desta vida devagarinho, sem sequer se despedir. Não resistiu ao desespero dos seus dias e decidiu pôr-lhe um ponto final.
Foi com lágrimas a correrem-me pela face que escrevi sobre ele mas precisava de o fazer.
Ele partiu e deixou-me a mim e a todos os outros que o amavam mais pobres, muito mais pobres.

Beijos da paginadora

Anónimo disse...

Amigo Zé
Não é solução não!!!
Actualmente existem cada vez mais jovens em Portugal a beber alcool em excesso. E isso é muito grave.
Não foi bem o caso do António, porque ele embora ainda novo não era própriamente um jovem.
Foi, isso sim a partir de determinada altura da sua vida um homem infeliz, que durante uns tempos também bebeu em excesso, pensando talvez que ,com a bebida poderia viver um pouco melhor no seu dia-a-dia cinzento. Grande engano. Não só isso não aconteceu como veio agravar os seus problemas. Concordo que nada como o tempo para curar certas feridas mas há quem não consiga afastar-se do precipício. O António não conseguiu.
Que descance em paz!!!
Um abraço