sábado, 25 de agosto de 2007

EPC versus Torga

Hoje faleceu Eduardo Prado Coelho, que eu reconheço como um grande ensaísta.
Mas fiquei abismada, não querendo acreditar no que estava a ver e a ouvir.
Não está em causa a obra intelectual deixada por EPC, a sua forma de ver os outros, a vida, o mundo que nos rodeia. Morreu um ser humano, conhecido por grande parte dos portugueses e isso basta para que nos sintamos de luto pela perda de mais um vulto da cultura portuguesa.
O que me indigna e revolta é o acorrer apressado da ministra da cultura e do primeiro-ministro a enaltecer as qualidadades de EPC, sentindo-se tristes por tão grande perda mas esquecendo-se que não apareceram nem deram sequer uma palavra aquando da homenagem pelo centenário do nascimento de MIGUEL TORGA.
Será que EPC é considerado pelo governo como cidadão de primeira e que Torga foi esquecido no centenário do seu nascimento pelo governo por o considerarem cidadão de segunda? Eu estou atenta a estas particularidades e penso que os portugueses também devem estar. Torga não vergou perante o estado novo o que lhe valeu ter estado preso em Aljube; como um dos fundadores do PS não gostou do rumo que o partido começava a tomar poucos anos após a revolução e cedo se demarcou da política, tendo tido durante o resto da sua vida uma grande desconfiança em relação a ela e um grande desencanto perante os seus colegas de partido.
O tempo veio a dar-lhe razão: o socialismo do PS desde há muito que foi metido na gaveta, previligiando-se as grandes empresas multinacionais, os grandes banqueiros, os países apenas interessados nos seus interesses económicos. Mas talvez mais tarde ainda venham a ser penalizados por isso! há vozes discordantes no seio do partido que já começam a tomar posição mas que ao invés de sussurrarem devem dizer bem alto aquilo que pensam.Manuel Alegre já começou, mas não pode ficar por aí. Deve isso aos portugueses que lhe deram um milhão de votos, deve isso a si mesmo como homem da cultura e como homem amante da liberdade que sempre disse ser.
Outra coisa que eu tenho a perguntar é: Será que Miguel Torga gostaria de se ver equiparado a Joe Berardo, na questão do lançamento dos selos comemorativos, dedicados a ambos?Tenho a certeza que Torga prescindiria dessa homenagem, pois como homem simples do povo que sempre foi, vertical e insubmisso não era dado a grandes honrarias.
Quem é Joe Berardo?
o que é que Berardo fez pelo país ou pela cultura portuguesa?
Eu confesso que não sei. Tristes tempos estes que a cultura só é bem vista se for elitista. Mas o que é isto? " É a cultura estúpida! A cultura que este país agora tem, a cultura que se calhar merece... ou talvez não.
Um abraço

3 comentários:

Meg disse...

Minha cara, começo e acabo pelo fim mesmo.
Quem é Berardo?
Berardo é um especulador!

Obrigada pelo Torga.

Obrigada pela visita e pelas palavras simpáticas.

Um abraço

Zé Povinho disse...

A morte de alguém ligado à Cultura é sempre uma perda a registar, ainda que nem sempre tenhamos concordado com tudo o que escreveu.
Quanto a Torga, que não vou comparar a EPC, penso que disse tudo - ele era um insubmisso. O poder nunca pretende realçar essa qualidade, ainda que de um grande vulto se trate.
Os selos mostram o (pouco) valor que se dá à Cultura.
Abraço do Zé

paginadora disse...

MEG e ZÉ
Custa-me muito ver um especulador, com uma fortuna duvidosa que ninguém sabe, com toda a certeza de onde veio e para onde vai estar em pé de igualdade com o nosso Torga.
EPC era uma figura da cultura portuguesa.É lamentável a morte de qualquer ser humano.
Um grande abraço aos dois.