sábado, 8 de dezembro de 2007

ARTE POÉTICA


Se o poema não serve para dar o nome às coisas
outro nome e ao seu silêncio outro silêncio,
se não serve para abrir o dia
em duas metades como dois dias resplandecentes
e para dizer o que cada um quer e precisa
ou o que a si mesmo nunca disse.



Se o poema não serve para que o amigo ou a amiga
entrem nele como numa ampla esplanada
e se sentem a conversar longamente com um copo de vinho na mão
sobre as raízes do tempo ou o sabor da coragem
ou como tarda a chegar o tempo frio.



Se o poema não serve para tirar o sono a um canalha
ou a ajudar a dormir o inocente
se é inútil para o desejo e o assombro,
para a memória e para o esquecimento.



Se o poema não serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então se cale.







António Ramos Rosa in Sílex, 1980




















2 comentários:

Papoila disse...

Muito merecida esta homenagem a António Ramos Rosa com a escolha deste belíssimo este poema!
Beijos

Meg disse...

Estou feliz por estares de volta!
Mais um dos meus poetas.
Poeta de palavras, de substância.
Por isso os poemas dele servem para dar o nome às coisas, entre outras coisas.
Gostei, é evidente.
Um abraço