sábado, 5 de janeiro de 2008

Desabafos

Mulher a pentear-se - DEGAS










São 4.30 horas da manhã, sento-me na cama. Que raio de noite tão comprida. Uma vez mais não consegui dormir nada de jeito. Levanto-me, com muito esforço, pareço uma zombie que anda pela casa. Tenho sono, muiiitooo. Mas parece que a cama tem picos. Entro em paranóia. Abro e fecho a janela do quarto como um autómato. Procuro o clarear do dia, como se ele pudesse mais facilmente espantar os meus fantasmas. Mas que conversa é esta? Que fantasmas é que me assombram?
Hoje tenho muito que fazer, portanto não me posso dar ao luxo de ficar a pensar e a dizer parvoíces. Tenho que iniciar o dia da melhor forma, tenho que resolver (para variar) assuntos comezinhos e isso não é nada que me chateie por aí além. Porquê? Porque é esta agora a minha rotina diária. Ficar em casa a lamber as feridas durante o dia para à noite contar carneirinhos...
O que me vale, para não enlouquecer são os meus livros e as palavras ( mesmo sem sentido ) que vou escrevendo. Deve haver muita gente que não compreende esta minha maneira de viver últimamente. Familiares e amigos ralham comigo dizendo que assim não consigo melhorar. Acusam-me de me isolar, de me remeter ao silêncio, de fugir do seu convívio. Querem saber de mim, saber como me sinto e penso? É-me penoso encontrar-vos, olhar-vos nos olhos e ter que mentir:
- Oh sim, estou melhor. Está tudo bem... tomar um café? porque não? mas amanhã, só amanhã pode ser?
Fica sempre para amanhã!
Adio o café, o encontro, o ter que olhar os outros nos olhos e sorrir. Adio a vida mas não consigo que seja doutra forma. Não ainda!
Que é que me aconteceu? Nunca fui muito expansiva mas sempre adorei sair, conversar, conhecer outras pessoas. Levei até há algum tempo atrás uma vida muito preenchida com trabalho, estudo, casa, família e amigos ( não necessáriamente por esta ordem) e de repente senti-me desmoronar, senti que tinha implodido por dentro. Por vezes sinto que a minha vida, o mundo exterior deixou de me interessar como dantes. Não se trata de gostar menos dos outros. Trata-se sim de os apreciar melhor à distância. Nunca como agora gostei tanto do telefone. Nunca como agora gostei tanto de ouvir o silêncio!
Interrogo-me, é claro se esta é uma maneira saudável de viver. No íntimo sei que não é mas não consigo que seja diferente. Não vale a pena ser hipócrita e dizer que é apenas uma crise passageira, já me tentei enganar a mim mesma antes e o resultado foi desastroso. Vou esperar para ver o que acontece.
Olho para o relógio no computador desejando que ele andasse para trás algumas horas. Horas? Porque não meses ou anos? Talvez esta angústia não me habitasse. Talvez o vazio não estivesse tão preenchido de coisa nenhuma.
Levanto-me da cadeira, uma vez mais para abrir e fechar a janela. Está frio lá fora, chuvisca...
Sinto-me gelada por dentro e por fora, resolvo ir para a cama mais um bocado. Não durmo mas vou tentar manter-me confortável, com a cabeça enfiada debaixo da almofada.
É quase dia... outro!

2 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Li com toda a atenção e quero compreendê-la.

Espero que esteja bem assistida clinicamente na actual fase da sua vida.
As depressões são diferentes de pessoa para pessoa, mas tratam-se!

Um conselho? tente descobrir algo de novo em si. Alguma coisa que nunca tenha feito nesm sequer suspeitado que era capaz de fazer. Desenhar, por exemplo.
Olhe para um livro de bonecos, um Pato Donald qualquer, e tente reproduzir o boneco da capa.
E saia de casa! Não esconda aos amigos verdadeiros que está depressiva. Eles ajudá-la-ão a recuperar o momentâneo equilíbrio emocional perdido.
Nada dura para sempre!

Fale comigo sempre que lhe apetecer. Procurarei responder sempre que possa, sem horas, que não sou cumpridor de horários rígidos.

Um abraço e TUDO de BOM!

Meg disse...

Cara amiga,
Cá estou de volta, sim, porque já ca estive e me inteirei dessa fase crítica que estás a atravessar.
Acho que todos num momento ou outro da vida, caímos em "buracos" desses. Não tenho muitas palavras, a não ser que SEI que é possível superar estados desses. Um bom acompanhamento clínico e tempo, minha amiga!

E como tens o meu mail, também eu ESTOU AQUI. De verdade!
Força!

E um abraço