34 anos após a revolução dos cravos, e depois de tanto se ter escrito sobre a mesma , quero também deixar aqui, hoje o meu testemunho sobre as recordações que me ficaram desse dia, que tanto me marcou e que mudou completamente a face de Portugal que definhava sob o jugo de uma ditadura caduca, fechada sobre si mesma e fortemente amparada por uma feroz polícia política.
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Em 1974 frequentava eu o ciclo preparatório em Évora, no Santa Clara, antigo convento de freiras, transformado em escola pública. O dia tinha começado de forma normal, as primeiras aulas também decorreram normalmente mas recordo que a meio da manhã já era notório um certo burburinho, uma certa desorientação e incerteza entre os professores e o pessoal auxiliar.
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Entretanto aconteceu que o Santa clara foi "invadido" por estudantes da Escola Industrial e Comercial de Évora e do Liceu Nacional de Évora. Os "grandes" , que nós mais novos tanto admirávamos começaram a distribuir panfletos e a dizer que estava a decorrer uma revolução no país para derrubar o Governo.
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Os professores foram aconselhados a mandarem os alunos para casa. Nessa tarde não haveria mais aulas. Eu desandei rápidamente para casa com o meu grupo habitual de vizinhos. As pessoas falavam umas com as outras à porta de casa, em sussurros e assustadas com a situação que, para a maioria ainda estava indefinida.
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Para nós miúdos tudo aquilo era novidade, revolução era uma palavra misteriosa mas atractiva. Pouco depois de chegar a casa chegou o meu pai, que saiu mais cedo do trabalho, correu para o ciclo para me apanhar e já o encontrou quase deserto. Levámos o resto do dia a ouvir as notícias, tentando acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.
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O meu pai ia ficando mais descontraido, à medida que as horas avançavam. Ele tinha amigos e conhecidos que desde há muito tinham passado para o outro lado da barricada, homens corajosos que ousaram afrontar o regime ditatorial. Uns tinham caído nas malhas da PIDE, outros viviam no anonimato tentando sobreviver conforme podiam, com a ajuda de familiares e amigos.
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Nos dias que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, fui à minha maneira inteirando-me de muitas coisas novas e que me iam fazendo sonhar com um futuro e um país diferente do que foi dado viver à geração dos meus avós e dos meus pais.
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Apesar das muitas vissicitudes, erros e excessos políticos, que ocorreram nestas últimas 3 décadas sou uma fã incondicional da Democracia, proporcionada pela revolução dos cravos. Fui aprendendo ao logo destes 34 anos a dar valor a algo que para mim é inestimável: a Liberdade.
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Liberdade que só foi possível alcançar graças aos corajosos Capitães de Abril. Graças à luta e resistência de tantos homens e mulheres anónimos do meu país. A eles eu continuarei eternamente reconhecida. Por isso digo:
25 de Abril sempre !
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