quarta-feira, 30 de abril de 2008


E assim se fez Abril !!!

terça-feira, 29 de abril de 2008

Bau de recordações

Uma luz na escuridão - foto de Miguel Lucena

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És mar revolto,
vadio
guardião de almas penadas,
torturadas,
sem abrigo e sem calor
a quem só a luz da madrugada
estende o seu manto
e acaricia
és onda que transporta nos braços,
alvoraçada a sua esperança
quando ao romper do dia
o sol aquece o espaço frio
num gesto de amor e rendição
beijas a terra fértil
amada
voltas a sonhar... a ser criança
faroleiro de almas perdidas,
meu eterno guia...

sábado, 26 de abril de 2008

Revolução

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Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
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Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
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Como a voz do mar
Interior de um povo
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Como página em branco
Onde o poema emerge
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Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
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27 de Abril de 1974
Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Construamos hoje um Abril para o futuro!





VIVA O 25 DE ABRIL! VIVA A LIBERDADE!




quinta-feira, 24 de abril de 2008


A Revolução a caminho ...




Entusiasmo popular



Capitão Salgueiro Maia






imagem - símbolo de Abril



O povo é quem mais ordena





Cantar Abril



Militares de Abril

25 de Abril sempre !


34 anos após a revolução dos cravos, e depois de tanto se ter escrito sobre a mesma , quero também deixar aqui, hoje o meu testemunho sobre as recordações que me ficaram desse dia, que tanto me marcou e que mudou completamente a face de Portugal que definhava sob o jugo de uma ditadura caduca, fechada sobre si mesma e fortemente amparada por uma feroz polícia política.

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Em 1974 frequentava eu o ciclo preparatório em Évora, no Santa Clara, antigo convento de freiras, transformado em escola pública. O dia tinha começado de forma normal, as primeiras aulas também decorreram normalmente mas recordo que a meio da manhã já era notório um certo burburinho, uma certa desorientação e incerteza entre os professores e o pessoal auxiliar.

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Entretanto aconteceu que o Santa clara foi "invadido" por estudantes da Escola Industrial e Comercial de Évora e do Liceu Nacional de Évora. Os "grandes" , que nós mais novos tanto admirávamos começaram a distribuir panfletos e a dizer que estava a decorrer uma revolução no país para derrubar o Governo.


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Os professores foram aconselhados a mandarem os alunos para casa. Nessa tarde não haveria mais aulas. Eu desandei rápidamente para casa com o meu grupo habitual de vizinhos. As pessoas falavam umas com as outras à porta de casa, em sussurros e assustadas com a situação que, para a maioria ainda estava indefinida.


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Para nós miúdos tudo aquilo era novidade, revolução era uma palavra misteriosa mas atractiva. Pouco depois de chegar a casa chegou o meu pai, que saiu mais cedo do trabalho, correu para o ciclo para me apanhar e já o encontrou quase deserto. Levámos o resto do dia a ouvir as notícias, tentando acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.


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O meu pai ia ficando mais descontraido, à medida que as horas avançavam. Ele tinha amigos e conhecidos que desde há muito tinham passado para o outro lado da barricada, homens corajosos que ousaram afrontar o regime ditatorial. Uns tinham caído nas malhas da PIDE, outros viviam no anonimato tentando sobreviver conforme podiam, com a ajuda de familiares e amigos.


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Nos dias que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, fui à minha maneira inteirando-me de muitas coisas novas e que me iam fazendo sonhar com um futuro e um país diferente do que foi dado viver à geração dos meus avós e dos meus pais.


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Apesar das muitas vissicitudes, erros e excessos políticos, que ocorreram nestas últimas 3 décadas sou uma fã incondicional da Democracia, proporcionada pela revolução dos cravos. Fui aprendendo ao logo destes 34 anos a dar valor a algo que para mim é inestimável: a Liberdade.


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Liberdade que só foi possível alcançar graças aos corajosos Capitães de Abril. Graças à luta e resistência de tantos homens e mulheres anónimos do meu país. A eles eu continuarei eternamente reconhecida. Por isso digo:



25 de Abril sempre !



terça-feira, 22 de abril de 2008

Regressei

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Não têm sido fáceis para mim estes últimos meses. Regressei a uma "quase" normalidade da minha vida quotidiana. Ponho o quase entre aspas porque essa normalidade é bastante relativa. Ainda pairam sobre a minha cabeça demasiados fantasmas, demasiadas angústias e interrogações. E se ...?


Tenho vivido estes últimos tempos a caminho e dentro de hospitais. Meu Deus, já era para me ter livrado deste cheiro enjoativo a remédios e tratamentos, mas não !!!


O cheiro persegue-me para além das paredes onde deveria estar confinado. Persegue-me o cheiro e o medo. Persegue-me o medo e a revolta. E a impotência também, o realizar que nada posso contra a adversidade quando ela teima em me bater à porta e, não obstante a minha recusa ela teima, empurra a porta e entra sem autorização. Entra de rompante e põe-me a vida de pernas para o ar. Mal me dá tempo para respirar.
Não me deixa espaço de manobra para me defender, ao menos para me defender já que para lutar não tenho forças suficientes. Confesso que estou exaurida das poucas forças que me restavam, confesso que na maior parte das vezes apenas penso em me atirar ao chão e deixar-me ficar.
Mas, e depois de atirada a toalha ao tapete ? E os outros, os que me cercam, que precisam de mim apesar dos meus poucos préstimos para lhes valer? É por pensar neles que ainda não baixei totalmente a guarda, que faço os possíveis e os impossíveis para me manter à tona. Só por pensar neles.



sábado, 12 de abril de 2008




DESEJO A TODOS UM BOM FIM-DE-SEMANA

domingo, 6 de abril de 2008

Fiama Hasse Pais Brandão





Por giestas, tojo e trevo
um dia abandonei-me. A medo,
na giesta roçar a espádua,
e no tojo a pele dos artelhos.
Dor, mágoa nesse caminho,
um dia seco entre montes.


Alcantilado amarelo,
crua miragem, passei
crente do amor e alma
que haviam de jorrar
para os inocentes.
Mas quem me dava
inocência ou magia?


Quem me conduzia
em caminhos de soleiras
de casa a casa vivas,
entre a giesta e o tojo?
Só o trevo me salva
da cega dor. Delíquio
entre flores minhas
que na Primavera
recobrem toda a estrada.


Eu vi, andei, e o meu pacto
de andar caminhos pobres
mais pobre foi no tojo.
Mais belo, alto, na giesta
o corpo consolou-se
e aceitou essa via
ao longo da estrada amarga.


Julgo que a obra de Fiama Hasse Pais Brandão, de que sou fã - embora reconheça não saber muito sobre o seu trabalho como dramaturga - é pouco conhecida entre nós, isto provavelmente devido à fraca divulgação que a sua obra tem tido, o que se passa com a maioria dos nossos "fazedores" de Cultura. Por esse motivo aqui deixo, humildemente estas breves palavras para que fiquemos a conhecer um pouco melhor mais um grande vulto das nossas letras.
Fiama nasceu em Lisboa, no ano de 1938. Notável poetisa mas também dramaturga, ficcionista e ensaísta. Viveu até aos dezoito anos de idade em Carcavelos, numa quinta tendo-se depois mudado para Lisboa onde viveu até 1992 para voltar a partir desta data a viver numa quinta. Foi aluna do St. Julian's School durante dez anos e frequentou o curso de Filologia Germânica na Universidade de Lisboa.
Fez crítica teatral, pesquisa histórica e literária sobre o séc.XVI em Portugal. Trabalhou como tradutora de Alemão, Inglês e Francês, de autores como John Updike, Bertold Brecht, Antonin Artaud, Novalis, Anton Tchekov e do Cântico Maior, atribuido a Salomão. Revelada, como Gastão Cruz, no movimento Poesia 61, que revolucionou a linguagem poética portuguesa dos anos 60, Fiama veio a demonstrar ser uma das principais vozes poéticas da sua geração. A sua obra caracteriza-se por uma grande densidade da palavra, o uso de uma poesia discursiva, por vezes fragmentária e sempre entrelaçando no discurso a metáfora e a imagem.
Escreveu o seu primeiro livro, Em Cada Pedra Um Voo Imóvel em 1958. Em 1961, com Morfismos, participou na publicação colectiva Poesia 61 - designação que foi dada a um conjunto de cinco «plaquettes» de poesia então publicadas, com a intenção de contribuir para a renovação da linguagem poética). No mesmo ano, foi editada a sua primeira peça de teatro, distinguida com o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores.
Além da poesia e do teatro, a obra de Fiama estende-se aos domínios do ensaio, da ficção e também como já disse da tradução.
Fiama foi distinguida por duas vezes com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, respectivamente em 1996 e em 2000.

Algumas obras de poesia :

Morfismos (1961)
Barcas Novas (1967)
Novas visões do passado (1975)
Homenagemàliteratura (1976)
F de Fiama (1986)
Três Rostos (1989)
Movimento Perpétuo (1992)
Epístolas e Memorandos (1996)
Cenas Vivas (2000)
As Fábulas (2002)

Teatro:

Os Chapéus de Chuva (1961)
A Campanha (1965)
Quem Move as Árvores (1979)
Teatro-Teatro (1990)

Prosa:

Em Cada Pedra Um Voo Imóvel (1958)
Movimento Perpétuo (1991)
Sob o Olhar de Medeia (1998)



Nota: neste post foram utilizadas fontes diversas na sua maioria disponíveis na Internet

sábado, 5 de abril de 2008

Amigo/a

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Décimas ( feitas pelo meu pai )

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Évora Cidade Museu
tens Paço Episcopal
a Travessa da Capelinha
és Património Mundial

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Tens o Templo de Diana
a Igreja de S. Francisco
tens além de tudo isto
o Jardim das Canas
tens Fontes Romanas
e a Rua do Orfeu
Universidade e Liceu
a Travessa das Milheiras
és de todas a primeira
Évora Cidade Museu

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Tens a Catedral da Sé
a Igreja de Santo Antão
a Rua do Alfeirão
a Travessa do Megué
o Oratório de São José
as Amas do Cardeal
tens Palácio Ducal
a Senhora da Pobreza
tens muitas outras belezas
tens Paço Episcopal

*

Tens a Travessa da Palmeira
tens os Meninos da Graça
a Travessa da Caraça
a Rua da Mostardeira
tens o largo da Amoreira
e a rua das Anjinhas
tens Santa Teresinha
a Igreja do Salvador
e além desse valor
tens a Travessa da Capelinha

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Tens a Porta de Alconchel
tens as Portas de Moura
tens a Rua da Corredoura
e o Pátio de São Miguel
a Travessa do Bacharel
e a Rua do Telhal
tens tudo afinal
que te torna mais fina
tens a Torre das Cinco Quinas
és Património Mundial


Estas décimas populares são da autoria de uma pessoa que eu amo e admiro muito - o meu pai - e esta foi a forma que encontrei para lhe prestar homenagem pela determinação e coragem demonstrada nestes últimos tempos. Entre outras coisas e a par do cante alentejano as quadras e décimas populares, algumas já muito antigas, passadas oralmente, de geração em geração deveriam ser preservadas pois são parte integrante da cultura, património e memória do povo alentejano.

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A força não provém da capacidade corporal, mas da vontade férrea.

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(Gandhi)