segunda-feira, 15 de outubro de 2007

SOMOS TODOS UNS ARRUACEIROS?

Há coisas que me escapam. Ao ler, no passado fim de semana uma coluna no correio da manhã, assinada pelo jornalista Emídio Rangel pensei que:
- Ou eu não tenho andado ultimamente muito ligada à terra ou então andam a acontecer coisas tremendamente graves e nem tenho dado por elas.
Então não é que o referido senhor escreve uma pequena coluna, intitulada "Os arruaceiros", onde se mostra muito indignado pelo facto do primeiro ministro andar a ser vaiado e assobiado pelo país fora? E escreve entre outras aleivosias o seguinte: - " Que democracia é esta que permite a ofensa, o escárnio, a humilhação dos dirigentes que escolhemos, com o nosso voto [o dele evidentemente], para governar Portugal ?."
Fiquei de boca aberta mas continuei a ler, pensando para os meus botões:
- Então este senhor não é jornalista? É pois! Então não é suposto que os jornalistas, pelo menos na sua maioria defendam a liberdade de expressão e o direito à opinião? Parece que era sim!
Continuei a ler, muito devagar porque o tamanho da dita crónica embora pequeno parecia-me já grande o suficiente para me fazer subir às paredes. Logo de início o tal senhor pergunta aos leitores se " é democrático um primeiro- ministro deslocar-se oficialmente a uma escola, uma fábrica ou uma empresa e ser recebido por uma 'manifestação espontânea', com trinta ou quarenta cidadãos vindos de fora [de onde serão estes espontâneos?] que assobiam, chamam nomes ao primeiro- ministro e muitos outros mimos ... que fazem corar as pedras da calçada... Um cidadão [enquanto tal] , legitimado pela escolha dos portugueses em eleições livres [ e directas, digo eu ], chamado a ser primeiro- ministro , tem que suportar, sempre que se desloca em serviço pelo país, estas ofensas e indignidades?
XI... onde nós vamos parar!
Ao continuar a ler dei pelos culpados de tão ignominiosa acção e então comecei a rir. Hahaha...! Cá está preto no branco que os culpados são os comunistas, vejam lá, tão caladinhos que eles andam, tinham que andar a tramar alguma. Mas ao terminar a pequenissíma crónica já fiquei com uma ideia formada e pensei:
- Os comunistas sempre foram acusados de coisas horriveis, até de comer criancinhas. Eu acho que andaram e andam ainda a ser comidas demasiadas criancinhas, embora eu não tenha conhecimento que tenha recaído qualquer acusação sobre os comunistas, veja-se o caso Casa Pia, que agora vemos transformado em ocaso, mas adiante... eu pensava que a caça às bruxas já tinha terminado à muito tempo, pelos vistos não.
Quer sejam os comunistas culpados ou não eu lavo as minhas mãos. Também um grupo de trinta ou quarenta pessoas pouca mossa faz. Ou não? Eu nem sequer sou comunista, aliás não possuo qualquer cartão partidário, daí o sentir-me livre para comentar seja o que for e em que circunstância for.
Então passo desde já a pensar alto.
O senhor Rangel deve andar muito baralhado, para reagir assim tão emotivamente. As manifestações ocorridas pelo país fora, parecem-me mais concorridas e parece-me que:
- Os professores são mais que quarenta e não são todos comunistas.
- Os polícias também me parecem em maior número e não me consta que o PC tenha conseguido um maior número de filiados ultimamente, senão ninguém os calava.
- O número de funcionários públicos a entrar na mobilidade também foi mais elevado e, quanto muito manifestaram-se com o apoio dos seus sindicatos, que por enquanto ainda são constitucionalmente aceites.
- E os médicos os enfermeiros, os alunos, os seus pais? É tudo comunista, aos olhos do senhor Rangel? Penso também que os governantes, quaisquer que eles sejam, tenham ou não sido eleitos por maioria absoluta ( mas vejam-se os números da abstenção) não estão acima da lei. Qualquer governante, em qualquer país do mundo pode e deve estar exposto não só ao escrutínio dos cidadãos, como também, se for o caso estar exposto a ouvir os protestos que causa em seu redor, devido à política seguida pelo seu executivo.
Eu sei que já foi à muito tempo, talvez o senhor Rangel já nem se lembre mas a democracia nasceu, em Portugal aquando do 25 de Abril de 74.
O senhor Rangel tem o dislate de terminar a sua pequenina crónica dizendo que não percebe a razão da não intervenção dos serviços de segurança aquando da manifestação dos "arruaceiros", e que " estas permitam o seu 'teatro' ilegal e ofensivo a poucos metros do primeiro-ministro".
Já não estamos muito longe disso acontecer. Os tribunais e as prisões estão a preparar-se para pôr cá fora os seus actuais inquilinos, afim de arranjar lugar para todos os portugueses que tiverem a ousadia de discordar com o governo, com o senhor primeiro-ministro e já agora com o senhor Rangel.
O que pretenderá este senhor?
Será que como jornalista está a fazer-se a mais algum lugar de topo na televisão pública? Não creio ou não fosse a televisão e a comunicação social por si acusadas de focarem " tudo o que mexe, sem critério e sem o cuidado de interprtetar os acontecimentos".
Ou será que está apenas a manifestar a sua opinião, que é ser contrário a que os portugueses manifestem a sua?
Veja lá senhor Rangel, porque me parece que, nos tempos que correm ter opinião sobre um determinado assunto é manifestamente perigoso. Poderá dar azo à intervenção das forças policiais!
E já agora pergunto : - Quem é que tem medo de uns arruaceiros? Ainda por cima sendo aí uns trinta ou quarenta... brrr!

1 comentário:

Meg disse...

Amiga Paginadora, este silêncio, mesmo aqui, é ensurdecedor, não achas?
Começa a haver assuntos tabu, reticências.
E salamaleques. Cuida-te!
Beijinhos