segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Lisboa, 12 de Janeiro 1977

Cinco versos dum poema
Cinco tons duma paisagem
Cinco fracções dum teorema
Cinco dedos de mensagem
Cinco sentidos em vela
à janela do meu corpo
Cinco pétalas dum mal-
mequer que muito bem te quis
Cinco quinas dum país
que sete castelos tem
cada qual com seu condado
um para cada morgado
ou cada filho da mãe

Lopes Morgado in Canto de Sol e Sal - Diário do meu país -
Abril 1983

domingo, 26 de agosto de 2007

REZA

por esta gente que sua que corre atravessa a rua e não sabe que ela é sua por esta gente que lê a morte que passa ao norte e não sonha que é suporte da vida para essa morte por esta gente que ri em morangos de alegria e nem sabe que harmonia é outro fruto outro dia outro sangue outra sangria por esta gente gravata que não desata nem ata ouve discursos de lata e os toma por boa prata por este escravo rebanho que teme em baba e em ranho deixa o redil sem amanho e longe vai ser estranho vendendo o nome e o tamanho por este povo que cai sem um ui ou sem um ai sem um ó ou dó de si e corre de festa em festa a fazer hara-kiri por esta gente que eu sou nunca mais ave no voo nunca mais graal que sonhou por esta gente sem suco sacada de saco roto partilha parto e aborto vinha de vinho sem mosto.
- venha a morte verdadeira gelar-nos rezas no rosto.

Eduardo Olímpio in Às Cavalitas do Tempo
Mini-Crónicas Maio de 1974

sábado, 25 de agosto de 2007

EPC versus Torga

Hoje faleceu Eduardo Prado Coelho, que eu reconheço como um grande ensaísta.
Mas fiquei abismada, não querendo acreditar no que estava a ver e a ouvir.
Não está em causa a obra intelectual deixada por EPC, a sua forma de ver os outros, a vida, o mundo que nos rodeia. Morreu um ser humano, conhecido por grande parte dos portugueses e isso basta para que nos sintamos de luto pela perda de mais um vulto da cultura portuguesa.
O que me indigna e revolta é o acorrer apressado da ministra da cultura e do primeiro-ministro a enaltecer as qualidadades de EPC, sentindo-se tristes por tão grande perda mas esquecendo-se que não apareceram nem deram sequer uma palavra aquando da homenagem pelo centenário do nascimento de MIGUEL TORGA.
Será que EPC é considerado pelo governo como cidadão de primeira e que Torga foi esquecido no centenário do seu nascimento pelo governo por o considerarem cidadão de segunda? Eu estou atenta a estas particularidades e penso que os portugueses também devem estar. Torga não vergou perante o estado novo o que lhe valeu ter estado preso em Aljube; como um dos fundadores do PS não gostou do rumo que o partido começava a tomar poucos anos após a revolução e cedo se demarcou da política, tendo tido durante o resto da sua vida uma grande desconfiança em relação a ela e um grande desencanto perante os seus colegas de partido.
O tempo veio a dar-lhe razão: o socialismo do PS desde há muito que foi metido na gaveta, previligiando-se as grandes empresas multinacionais, os grandes banqueiros, os países apenas interessados nos seus interesses económicos. Mas talvez mais tarde ainda venham a ser penalizados por isso! há vozes discordantes no seio do partido que já começam a tomar posição mas que ao invés de sussurrarem devem dizer bem alto aquilo que pensam.Manuel Alegre já começou, mas não pode ficar por aí. Deve isso aos portugueses que lhe deram um milhão de votos, deve isso a si mesmo como homem da cultura e como homem amante da liberdade que sempre disse ser.
Outra coisa que eu tenho a perguntar é: Será que Miguel Torga gostaria de se ver equiparado a Joe Berardo, na questão do lançamento dos selos comemorativos, dedicados a ambos?Tenho a certeza que Torga prescindiria dessa homenagem, pois como homem simples do povo que sempre foi, vertical e insubmisso não era dado a grandes honrarias.
Quem é Joe Berardo?
o que é que Berardo fez pelo país ou pela cultura portuguesa?
Eu confesso que não sei. Tristes tempos estes que a cultura só é bem vista se for elitista. Mas o que é isto? " É a cultura estúpida! A cultura que este país agora tem, a cultura que se calhar merece... ou talvez não.
Um abraço

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Para recordar


Imagem enviada por amigos via mail


AINDA SE LEMBRAM DO DESERTO? DO TGV? DAQUELE SENHOR ANAFADO E MÍOPE QUE SÓ VIA AREIA?
MAS OS ALENTEJANOS NÃO SÃO OS CAMELOS!

PARA QUE CONSTE E NÃO SE APAGUE A MEMÓRIA.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

E agora boa noite



Pssiu que agora vou dormir.
Um abraço do tamanho do mundo

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Sejam Bem-vindos
















Mapa da cidade









Praça do Geraldo








Fonte Henriquina situada
na Praça Grande ou do Giraldo











Entrada da Sé de Évora












Igreja dos Meninos da Graça











Campo nos arredores da cidade














Vista aérea da cidade





Hoje deixo-vos algumas imagens da minha cidade, para quem ainda a não conheça ficar com vontade de o fazer. Para aqueles que já a conhecem a recordem e fiquem com vontade de cá voltar.
Um abraço do tamanho do mundo

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Triste e revoltada

A amizade é fundamental. Digo eu!
E o princípezinho também pensa o mesmo concerteza


Campanha da Amnistia Internacional






Como hoje estou triste e revoltada apenas vos deixo estas imagens com um grande abraço para todas/os.


Nota: Eu ainda volto a falar sobre esta postagem mas está tudo bem comigo ( não fui eu a vítima de qualquer espécie de violência, salvo aquela que os "senhores deste mundo e do outro" nos lançam todos os dias) .
Mas eu tenho a carapaça dura. Abraços.
22/08/07




Promessa de ontem

O prometido é devido:

- O poema de ontem intitulado Condição
foi retirado do Diário II, que Miguel Torga
escreveu em 1943.

Torga para sempre

Dies Irae

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer,mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!

Miguel Torga in Cântico do homem

domingo, 12 de agosto de 2007

Centenário do nascimento de Miguel Torga: Homem Escritor e Poeta

O menino que nasceu faz hoje cem anos numa modesta casa na freguesia de S. Martinho de Anta não se chamava ainda Miguel Torga. Nasceu como Adolfo Correia da Rocha e conheceu desde muito cedo a vida de trabalho , aos seis anos foi mandado para o Porto como criado de servir de uma família burguesa, não gostou da servidão o menino que estava habituado à liberdade, imensidão e paz da sua terra transmontana. Aos13 anos foi enviado para o Brasil para trabalhar na fazenda de um tio. Também não gostou muito desta esperiência de trabalhar para um familiar em troca do pagamento dos seus estudos. Embora lhe ficasse grato porque era enorme a sua sede de aprender!

Regressado a Portugal o tio continuou a pagar-lhe os estudos e mais tarde em Coimbra cursou medicina e formou-se. Foi na baixa da cidade de Coimbra, onde viveu a maior parte da sua vida que abriu um consultório como médico especialista de ouvidos, nariz e garganta. Nesse consultório no intervalo das consultas ia escrevendo a sua obra. E que obra!

O Dr. Rocha só em 1934 começou a ser conhecido como Miguel Torga. Preferiu sempre editar pessoalmente as suas obras, custeando-as do seu bolso. Daí talvez a ideia de alguns o acharem solitário e sovina mas os amigos dizem que era um homem generoso, íntegro e solidário como poucos. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre Miguel Torga pode começar por ler a sua obra de cariz autobiográfico "A Criação do Mundo". Eu conheço à muitos anos algumas obras deste transmontano rijo e amigo do mundo rural que tão bem retrata nos seus livros. O primeiro contacto foi nos bancos da escola onde hoje, infelizmente não consta dos programas escolares. Ai a Educação e a Cultura deste país!

Por hoje fico por aqui, neste pequeno texto introdutório, volto amanhã ou nos próximos dias com o mesmo tema porque a melhor homenagem que se pode fazer a Miguel Torga é ler os seus livros. É isso que agora vou fazer mas antes deixo-vos uma prenda... e um desafio. Alguém sabe em que obra se encontra este poema?Se não souberem não faz mal, da próxima vez que aqui falar de Torga eu digo. Prometo!


CONDIÇÃO


É de pedra esta triste melodia

Onde rasgo o volume do meu canto;

É dum granito negro que vigia

A pureza,maciça do meu pranto.


Dura

Solitária e cerrada,

Tem beleza e ternura,

Mas é fraga pisada ...


Fraga velha e batida

Pela dor dos almocreves e carreiros,

Só nela eu posso eternizar a vida,

Minha e dos companheiros...

Coimbra, 20 de Março de 1943
Miguel Torga



Boas leituras e...
Um abraço fraterno e solidário







Bom dia a todos



Este blog está com azar, devido a esta paginadora desastrada.Perdi posts, algumas alterações feitas fizeram com que fosse "pior a emenda que o soneto". Mas hoje é um dia especial e a palavra de ordem é TORGA.Volto mais logo se possível...

Um abraço.

sábado, 11 de agosto de 2007

Pavloviana

Animação de Alexandre Bersot
exibida no Anima Mundi

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Em poucas palavras

Hoje apenas vos deixo estas imagens, prometo que volto amanhã. Com mais imagens e também texto.

Para todos eu envio um abraço do tamanho do mundo .