quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O Portugal Futuro

Aproxima-se um novo ano. Cheio de interrogações, sobre o futuro próximo dos portugueses. Há muito que não sentia o meu país assim tão triste e deprimido. Há muito que não deambulava vagarosamente pelas ruas, tentando adivinhar nos rostos anónimos que comigo se vão cruzando os diversos estados de espírito que neles habitam. Não é alegria que vislumbro na maioria dos rostos mas sim angústia e desesperança. E como poderia ser de outra forma?


Para onde quer que nos viremos só deparamos com injustiça, desemprego e miséria. O horizonte dos portugueses apresenta-se assim bastante cinzento, o que provoca nalguns uma enorme revolta pelo degradante estado a que as coisas chegaram neste triste país: ataques aos mais elementares direitos laborais dos trabalhadores, às suas condições de vida, desrespeito e falta de tacto político a lidar com questões sociais e humanas, entre outras. Noutros, infelizmente a presente situação apenas tem provocado desinteresse, apatia. Um deixar andar, que não é nada saudável num país democrático.


Não sinto uma grande esperança nos tempos que se aproximam, os ataques tem sido muitos e cerrados. Mas no fundo o português não se deixa vencer por um qualquer contratempo, sabendo no final dar sempre a volta por cima.É esse o meu desejo: Que todos nós sejamos capazes de dar a volta por cima!!! Estendo este desejo a todos os que me rodeiam, quer se encontrem perto ou longe fisicamente, a familiares, amigos, colegas de trabalho...


Sei que isso é possível, no que me diz respeito, apesar de muitas das minhas debilidades sou rija.
Apesar de tantos contratempos cá estarei em 2008, de pedra e cal. Firme como um velho sobreiro alentejano. E espero o mesmo de todos vós!


Que 2008 nos traga a justiça, a paz e a felicidade que merecemos. Que nos traga como nas palavras de Ruy Belo o Portugal Futuro, que "portugal será e lá serei feliz" e onde " tudo nele será novo desde os ramos à raiz".
Um abraço do tamanho do mundo












BOM ANO 2008

















O portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro
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Ruy Belo in homem de palavra (s)

sábado, 22 de dezembro de 2007




QUE
Apenas os ventos e as marés nos guiem,
Sejam nossos mestres na árdua caminhada.
Nunca sejam tolhidos os nossos passos,
Eles que nos conduzam à terra prometida.
Nada nos impeça de sonhar, seguir em frente
Seja plantada a árvore do paraíso nesta vida
Sem medo de comer a maçã dada pela serpente.
QUE
Apenas os ventos e as marés nos guiem,
Na procura insana da paz e da felicidade.
Que os nossos pés deixem na areia apenas traços,
duma presença etérea, rumo à luz, à alvorada.
Não nos procurem no percurso mais curto,
Nem na estrada por todos mais trilhada
Porque o nosso rumo será sempre o da liberdade.
Um abraço



sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

* BOAS FESTAS *






DESEJO A TODOS OS AMIGOS E VISITANTES DESTE BLOG UM FELIZ NATAL E UM BOM ANO 2008.

sábado, 8 de dezembro de 2007

ANTÓNIO RAMOS ROSA



Hoje trago até aqui um poema de António Ramos Rosa, poeta de que gosto muito. Nasceu em Faro, no ano de 1924 e tem uma vasta obra publicada, não só como poeta mas também como ensaísta e tradutor.

Foi director de várias revistas tais como a Árvore e a Cassiopeia e colaborou em diversas outras revistas e jornais. Publicou mais de 70 livros desde a década de 60, tendo ganho em 1988 o Prémio Pessoa e em 1991 o Prémio Europeu de Poesia.

Muito mais poderia dizer sobre António Ramos Rosa, mas para qualquer poeta ou escritor mais do que falar sobre ele, o importante é mesmo ler a sua obra.

Um abraço

ARTE POÉTICA


Se o poema não serve para dar o nome às coisas
outro nome e ao seu silêncio outro silêncio,
se não serve para abrir o dia
em duas metades como dois dias resplandecentes
e para dizer o que cada um quer e precisa
ou o que a si mesmo nunca disse.



Se o poema não serve para que o amigo ou a amiga
entrem nele como numa ampla esplanada
e se sentem a conversar longamente com um copo de vinho na mão
sobre as raízes do tempo ou o sabor da coragem
ou como tarda a chegar o tempo frio.



Se o poema não serve para tirar o sono a um canalha
ou a ajudar a dormir o inocente
se é inútil para o desejo e o assombro,
para a memória e para o esquecimento.



Se o poema não serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então se cale.







António Ramos Rosa in Sílex, 1980




















sábado, 1 de dezembro de 2007

Resistirei




Elas chegaram uma vez mais silenciosas, à traição infiltraram-se no meu corpo, tomaram conta de mim, de tal forma que perdi uma vez mais o controlo da situação.Vivem comigo diáriamente, acordam quando eu acordo e eu adormeço quando elas me deixam adormecer. O meu corpo deixa de me pertencer, os movimentos mais simples tornam-se bastante dolorosos, o cansaço é persistente, volta a depressão, gerando-se um ciclo vicioso de que é difícil sair.

Já deveria estar habituada mas nem todos nós conseguimos superar as crises da mesma forma. Nem sempre somos capazes de lutar com a mesma força e a mesma coragem.

Há cerca de um ano que as crises eram menos agressivas. Nos ultimos tempos vivi um pouco mais feliz, os meus dias tinham mais luz, voltei a sentir-me melhor entre os meus amigos, que anteriormente cheguei a evitar completamente, isolando-me da vida e do mundo. Mas eu sei que a família e os amigos são o meu suporte, por isso por eles e por mim vou continuar a lutar. Resistirei mesmo que nem sempre vença.





Um abraço